quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Um rito, três justificativas



Um rito, três justificativas

A circuncisão é justificada por três tipos de discursos. Cada cultura segue aquele que mais se enquadra a suas tradições e costumes
Mitológica
É aquela aplicada às tribos africanas e aos povos que seguem a circuncisão pré-monoteísta e profana, como ocorre nas ilhas de Vanuatu, na Austrália e ao sudeste da Nova Guiné. Diz uma lenda do arquipélago que um dia um jovem rapaz e sua irmã decidiram ir ao bosque colher frutas.  Após terem cortado cachos de bananas, o rapaz descansou ao pé de uma árvore, enquanto a irmã terminava a colheita do dia.

Mas, ao descer da árvore, o machado caiu de sua mão e cortou o prepúcio do irmão. Uma vez curado, o rapaz teve relação sexual com uma moça do vilarejo, que, satisfeita com o desempenho do amante, contou o que ocorrera a suas amigas.  Despertou então o desejo de todas elas em dormir com o jovem, causando inveja aos homens da tribo. Curiosos, eles perguntaram a suas companheiras o motivo de tal interesse e elas responderam unânimes:  "Só dormiremos com vocês, se estiverem como ele".
Religiosa
A circuncisão hebraica é o melhor modelo dessa vertente explicativa. De fato, o judaísmo considera a supressão do prepúcio como uma validação ou confirmação da adesão ao dogma. Fala-se, nesse caso, em "sinal de aliança" e "ingresso na Torá".
Quanto ao cristianismo, a circuncisão não é preconizada, mas sublimada a uma vocação espiritual. Lembremos da linha de demarcação introduzida pela literatura patrística. Filastro de Brescia fala da "circuncisão do coração", enquanto Tertuliano evoca a "circuncisão espiritual".

O islamismo não trouxe mudanças importantes ao rito. Para essa religião, a circuncisão implica uma purificação corporal, uma "prova" necessária ao fiel quando passa a freqüentar a mesquita. Dessa forma, sua função espiritual é relegada ao segundo plano.  A explicação religiosa da circuncisão resume-se ao conceito de privar o homem de fatores exógenos que possam desviá-lo do caminho espiritual.
Médica
A explicação mais comum para os partidários atuais da circuncisão seria o fator higiênico. Em realidade, essa tese data de Filon de Alexandria (13 a.C. - 54 d.C.), filósofo judeu de origem grega que, em sua obra De circumcisione, chama a atenção para o fato de que a circuncisão garantiria uma maior higiene ao órgão genital masculino, evitando uma série de afecções como sífilis, fimose, herpes, balanopostites, falsa gonorréia, concentração de esmegma.

Nesse sentido, podemos afirmar que a circuncisão é o único tratamento válido para a fimose (estreitamento anormal e doloroso do prepúcio) e a parafimose (estrangulamento da base da glande do pênis por um prepúcio estreito demais). A história relata que após ter passado quatro anos em abstinência sexual por ter contraído fimose, o rei Luís XVI optou pela circuncisão.

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