terça-feira, 2 de agosto de 2011

ISRAEL,JUDÉIA OU PALESTINA? (1° Parte)







Disparidades regionais e flutuações históricas que exprimem em particular a multiplicidade dos nomes dados a esse território polimorfo, quer seja descrito do exterior por observadores como Heródoto, por geógrafos como Estrabão, por naturalistas como Plínio, o Velho, quer designado do interior por uma administração estrangeira — lágida, selêucida ou romana — ou pelos próprios judeus, o uso corrente, assim como a nomenclatura oficial, apresenta uma diversidade desconcertante.
De todas essas denominações, reterei apenas três, que atestam as legendas de três moedas. A primeira é um grande bronze posto em circulação em Naplusa, em 159-160. Na frente, o busto de Antonino, o Piedoso; no verso, um templo no cimo do monte Garizim, acompanhado da legenda grega Neapoleôs Syrias Palaistinês. A segunda moeda é um sestércio de bronze, datado de 71, com o busto de Vespasiano na frente; no verso, uma palmeira, ladeada pelo imperador à esquerda e por uma mulher judia cativa à direita, está rodeada pela legenda: Judaea capta. A terceira é uma tetradracma da segunda guerra judaica. Na frente, a fachada tetrastilo do Templo de Jerusalém; no verso, olulav e o etrog, que fazem referência à festa de Sukkot, estão circundados pela legenda, em escrita paleo-hebraica: “Ano 1 da redenção de Israel”. Três moedas, portanto três denominações diferentes: Palestina, Judéia, Israel[1].
Literalmente, Palaistinê é o nome grego que designa o país dos filisteus. Em um comentário sobre a tábua dos povos de Génesis 10, que enumera as diversas regiões do mundo ocupadas pelos filhos de Noé, Flávio Josefo diz que Filistinos, um dos descendentes de Cam, é o único que se instalou em um país que leva o nome de seu fundador: “Com efeito”, escreve, “os gregos chamamPalestina à parte que lhe coube” (Antiguidades, 1, 136). Já no testemunho de Heródoto (Histórias, VII, 89), Palestina é o nome dado à parte da Síria onde habitam os fenícios, e a toda a costa até o Egito. Igualmente, o geógrafo Pompônio Mela (Chorographia I, 11, 63) e Plinio, o Velho (História natural, V, 69), designam assim a faixa costeira que se estende da Fenícia ao Egito. Mas tomado em uma segunda acepção, igualmente atestado por Heródoto, o termo estende-se a toda a região que está atrás, e então compreende o conjunto da Síria meridional: “Os fenícios e os sírios da Palestina reconhecem, eles próprios, ter aprendido dos egípcios o costume da circuncisão” (Histórias, II, 104, 3)[2].Aristóteles admira-se com as fábulas que contam sobre um lago da Palestina onde flutuam na superficie todos os corpos de homens ou animais que nele são mergulhados, e que é tão salgado que nenhum peixe pode viver ali(Meteorológicos II, 359 a). A região habitada por “uma parte não desprezível da nação muito populosa ágida, dos judeus”, e muito especialmente pelos essênios, é chamada “Síria Palestina” por Filon de Alexandria (Probus, 75). Mas só depois de 135 o nome oficial da província romana da Judéia será substituído por “Síria Palestina” ou ‘Palestina”. Esse nome, que não é atestado nem nos Setenta nem na literatura apocaliptica judaica nem no Novo Testamento, só raramente é encontrado nos escritos rabínicos.

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