terça-feira, 10 de setembro de 2013

"Aspecto Religioso da Circuncisão" por Pr.Fernando Gomes



  

                                                                              
Dr. Marcio SisterMédico, urologista, membro da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).





O Dr. Marcio Sister tem em sua prática médica mais de 4.500 circuncisões realizadas, além de milhares de cirurgias urológicas variadas.

Todos os pais judeus tem a obrigação (e a mitzvá) de circuncisar seus filhos no 8o. dia após o seu nascimento, conforme está escrito na Torah, em Genesis, ou designar um representante para fazê-lo em seu nome. É isto o que acontece durante a cerimônia conhecida como Brit Milah - o Pacto da Aliança, geralmente realizada por um mohel, profissional devidamente capacitado para isto. O Brit Milah é talvez o ritual mais importante do judaismo. Uma cerimônia equivalente também existe para as meninas e é conhecida como Brit Bat. Por razões óbvias, o Brit Bat não envolve qualquer procedimento cirúrgico associado.
O Brit Milah é descrito como a promessa feita por D's que garante a continuidade do povo judeu. Assim, esta cerimônia é centrada na parte do corpo responsável pelas novas gerações. Por outro lado, o Brit Bat é focado no nome da menina recém-nascida.
O Brit Mila deve acontecer no oitavo dia após o nascimento do bebê, mesmo que isso ocorra num Shabbath ou até mesmo em Rosh Hashaná ou em Yom Kippur. Assim, se uma criança nasce numa terça-feira, até as 18h, seu Brit Milah deverá ocorrer na terça-feira seguinte e assim por diante. Existem caso específicos para nascimentos ocorridos de parto cesáreo: se isto acontece por exemplo num Shabbath, o Brit Milah será no domingo seguinte e não no Shabbat seguinte. O Brit Bat por sua vez não tem uma data estipulada para acontecer.
E porque o oitavo dia? Aqui encontramos diferentes interpretações: alguns rabinos acreditam que quando uma criança nasce, ela deve experimentar os 7 dias da criação do mundo e portanto seu Brit Milah ocorreria no oitavo dia após seu nascimento; outros acreditam que toda criança deve conhecer a "doçura"de um Shabbath. Existem algumas teorias médicas relativas à presença de maiores quantidades de coagulantes sanguíneos ao redor do oitavo dia do nascimento de uma criança, o que explicaria a rápida recuperação após a cirurgia, mas nenhuma delas foi científicamente comprovada. Quando por razões médicas a criança não pode ser submetida à circuncisão, o Brit MIlah será adiado até a total recuperação do bebê.
A cerimônia do Brit Milah inclui 2 partes: a circuncisão, ato cirurgico que é geralmente realizado por um mohel, treinado para este fim e o momento quando o bebê recebe seu nome em hebraico, quando são feitas as rezas e bençãos para ele e toda sua família. O mohel não é necessariamente um rabino. Atualmente, muitos mohalim são médicos, o que ajuda muito no desempenho do procedimento cirúrgico. A presença de um rabino não é indispensável mas caso a família opte por ter seu rabino presente, ele é sempre muito bem vindo.
Dois mil anos atrás, os judeus começaram a dar nomes a seus filhos não somente baseados em grandes figuras bíblicos mas também para homenagear familiares que haviam morrido e que eles desejavam honrar, costume esse talvez adquirido das tradições egípcias ou gregas. Acreditava-se que ao morrer, a alma da pessoa ficava vagando pelo limbo até que seu nome fosse dado a uma criança recém-nascida. Só então sua alma poderia encontrar o descanso eterno. Isto faz parte da tradição asquenazi. O costume sefaradi, entretanto, é de se dar nomes de parentes e familiares vivos. o certo é que não existem regras claras pré=definidas quanto ao nome do bebê e cada família segue suas próprias tradições.
Duas (ou mais) pessoas são homenageadas durante o Brit Milah: são eles o padrinho e a madrinha. No passado, os padrinhos tinham a responsabilidade de criar a criança na tradição judaica, na eventualidade da ausência dos pais. Atualmente, é somente uma homenagem para os padrinhos que, estando presentes ao Brit Milah, vãoconduzir o bebê ao recinto onde será realizada a cerimônia. Eles (os padrinhos) não precisam ser casados ou sequer serem aparentados um do outro e nem precisam ser judeus. A homenagem prestada a eles é somente cerimonial não havendo nenhuma responsabilidade legal.
Outro costume é incluir no local da cerimônia uma cadeira para o Profeta Eliahu. Eliahu, segundo a Torah, é o profeta que vai anunciar a chegada do Messias. Como qualquer criança judia pode ser o Messias, Eliahu deve estar sempre presente para não perder nenhum nascimento.
Outra pessoa que participa do Brit Milah e é homenageada é o Sandik ou Sandak, palavra de origem grega, vem de "suntekos" que significa "companheiro da criança", não necessariamente a pessoa mais idosa da família mas sim alguém que mantenha laços estreitos com o bebê seus familiares. O Sandik segura o bebê num determinado ponto da cerimônia, geralmente na hora da circuncisão propriamente dita.

O Minian (grupo de 10 judeus maiores de 13 anos) não é indispensável para a realização do Brit Milah porém todos os presentes devem usar kippah. A cerimônia do Brit Milah encerra geralmente com a Seudat Mitzvah, uma refeição festiva. O Talmud diz que tão importante - é quase um mandamento - quanto a realização do Brit Milah é a sua comemoração festiva com uma refeição, que pode ser tão somente um bolo e vinho como uma festa grandiosa para 100 ou mais pessoas.


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